A montagem do texto do autor romeno narra a relação de uma vítima de estupro da guerra da Bósnia com uma médica norte-americana, a peça ‘O corpo da mulher como campo batalha’ estreia dia 12 de junho (segunda), às 20h, no Sesc Consolação em São Paulo.
Duas mulheres protagonistas desta peça, Dorra (Camila Turim) e Kate (Patricia Pichamone), encontram-se no hospital da OTAN em 1994. Estamos no fim da Guerra Bósnia, que foi o conflito mais longo e sangrento em solo Europeu desde a Segunda Guerra Mundial.
Durante essa guerra étnica, o estupro foi usado com táctica para destruição do inimigo. Campos de estupros foram instalados em escolas, e igrejas onde mulheres eram sistematicamente estupradas. Muitas engravidavam e eram mantidas em cativeiro, tornando o aborto impossível, até que gerassem um filho fruto da violência que sofreram. Em torno de 50.000 mulheres foram estupradas.
É nesse território político e íntimo que o texto do romeno Matéi Visniec explora os limites entre o documental e a poesia. Através das duas personagens, a peça discute a violência contra a mulher, o estupro como arma de guerra, os movimentos extremistas, o aborto e a maternidade.
A direção de Malú Bazán propõe um diálogo entre o épico e o simbólico, no mesmo caminho que lança mão na cenografia e figurinos de Anne Cerrutti para um ambiente que traz a terra como elemento cênico presente e vivo, no qual as personagens interagem, partindo de uma sensação antisséptica de hospital para ir se afundando na lama das dores humanas da guerra e todas as suas consequências desumanas.
Ao longo da peça, o efeito de sujeira toma conta da cena e revela a imagem de quem é contaminada pela violência da guerra, pelo afastamento da família e pela brutalidade do estupro, o que as une para redimensionar o sentido realmente político de suas vidas.
A iluminação estabelece os diversos campos onde a guerra é travada, seja na claridade intensa de um quarto de hospital, seja no ventre imaginário de uma mãe que não sabe se realmente deseja o filho fruto de uma agressão sexual fria e planejada. Já a sonoridade busca estabelecer as diversas sensações que se dão na narrativa, seja dos climas dramáticos em si, seja da narrativa documental ou dos planos imaginários que as personagens trazem à cena, como pensamentos revelados ao públicos por uma musicalidade íntima.
Para a atriz e produtora Camila Turim “o primeiro impacto do texto foi de como o nacionalismo é presente na manipulação de poder que representa o pensamento conservador e masculino. O estupro é utilizado como arma de guerra tanto como humilhação do inimigo, como método procriação forçada da etnia vencedora.” Para ela “a peça dialoga com temas muito atuais, para além da guerra da Bósnia, como o crescimento desse conservadorismo que separa os homens em muros, como quer Donald Trump, ou na segregação preconceituosa de refugiados, como propõe Marine Le Pen”.
Sinopse
‘O Corpo da Mulher como Campo de Batalha’
Duas mulheres se encontram depois do conflito bósnio (de abril de 1992 a dezembro de 1995), uma médica norte-americana e uma refugiada violentada na guerra da Bósnia dividem suas histórias e buscam encontrar forças para continuar suas trajetórias. Mulheres que, depois da destruição de seus universos sociais e íntimos, irão reconstruir um equilíbrio possível.
Serviço:
O Corpo da Mulher como Campo de Batalha
Quando: de 12 de junho a 11 de julho.
De segundas e terças às 20h.
Classificação: 14 anos
Duração: 75 minutos
Sesc Consolação Espaço Beta – 3° andar
Rua Dr. Vila Nova, 245 – Vila Buarque
Ingressos: R$ 20,00.R$ 10,00(meia-entrada: estudante, servidor de escola pública, +60 anos, aposentado e pessoa com deficiência).R$ 6,00 (credencial plena: trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes). Ingressos à venda pelo Portal sescsp.org.br a partir das 18h de 6/6 e nas bilheterias do Sesc São Paulo a partir das 17h30 do dia 7/6.
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