Aberta ao público desde o dia 29 de junho, no MASP , Toulouse-Lautrec em vermelho, a maior exposição dedicada à obra do francês Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901) já realizada no Brasil. Em torno do tema da sexualidade, a mostra conta com 75 obras, entre pinturas, cartazes e gravuras, que estão entre as mais emblemáticas do artista.
Das onze obras de Toulouse-Lautrec da coleção do MASP, a maior e mais importante em um museu da América Latina, 9 estarão expostas; as demais serão empréstimos de alguns dos principais museus e coleções particulares do mundo, tais como Musée d’Orsay, de Paris; Tate e Victoria & Albert Museum, de Londres; The Art Institute of Chicago; National Gallery of Art, de Washington; e Museo Thyssen-Bornemisza, de Madrid.
Toulouse-Lautrec foi um dos artistas centrais da Paris do final do século 19, ao capturar a efervescência noturna da capital que despertava para a modernidade, quando suas ruas foram iluminadas a gás e as mais diversas figuras passaram a se encontrar nos espaços públicos, entre burgueses, boêmios, prostitutas, dançarinos e artistas.
Inteiramente concebida e organizada pelo MASP, Toulouse-Lautrec em vermelho traz cenas de apresentações em cabarés, danças em bares, bailes de máscaras, retratos de figuras da sociedade e do célebre bairro Montmartre, que lhe renderam a fama ainda em vida. A exposição traz também cenas interiores das maisons closes, como eram chamados os bordéis da época, com suas trabalhadoras em momentos de descanso e intimidade, em seus afazeres cotidianos.
Três dessas composições – O divã (circa 1893), Estudo para No salão da rue des Moulins (1894) e As duas amigas (1894) retratam o salão de entrada de um luxuoso bordel parisiense na rue des Moulins, que Toulouse-Lautrec frequentou em meados dos anos 1890. Com sofás de encosto alto e forrados de veludo escarlate, a decoração do local serviu de sugestão para o título da mostra, cuja cor também é seguidamente associada à sexualidade e ao prazer. As três pinturas são também as primeiras obras que o público encontra ao adentrar o espaço expositivo do 1º andar do MASP, na área dedicada ao universo da prostituição.
Toulouse-Lautrec foi um frequentador assíduo da vida noturna de Montmartre, bairro boêmio ao norte de Paris, que sobreviveu às transformações urbanísticas do prefeito Georges-Eugène Haussmann (1809-1891), cujas reformas transformaram-na em uma cidade elegante e organizada. O trânsito livre entre os bordéis e cabarés, tanto de dia, quanto à noite, permitiu que o artista criasse relações de amizade e confiança com os administradores e trabalhadoras dos locais, possibilitando que lançasse um olhar singular, afetuoso e não moralizante sobre essas pessoas e suas vidas.
Trabalhos como Mulher se penteando
Duas mulheres em camisola (1891), Estas mulheres na sala de jantar (1893-95), Mulher puxando sua meia (circa 1894) e Só (1896), por exemplo, retratam atividades domésticas e banais, que fazem parte do dia a dia daquelas mulheres, como pentear o cabelo, dividir refeições, ou ainda vestir a roupa e descansar, exaurida, depois de um período de trabalho. Em vez de imagens eróticas, feitas para o consumo masculino e heterossexual, Toulouse-Lautrec registrou momentos de intimidade de suas personagens e seu corpos, a partir de um ponto de vista afetuoso. Nesse núcleo encontram-se também 3 pinturas ovais, em forma de medalhões, que foram feitas para decorar o salão de entrada de uma maison close na rue d’Amboise. No entanto, no lugar de retratos de figuras importantes, que normalmente decoram palácios, as obras retratam prostituas do local.
As áreas seguintes, no centro da galeria, são destinadas à representação da figura humana e apresenta uma seleção de retratos não só de homens e mulheres da sociedade, mas também de mulheres da classe trabalhadora. As composições A grande Maria (circa 1886), Na Bastilha (Jeanne Wenz) (1888) e Mulher com echarpe preta (1882) revelam mulheres de corpo inteiro, que encaram de frente o espectador, desafiando-o com o olhar. Elas contrastam com a domesticidade e a “pureza” intencionadas, por meio do recato da pose ereta do corpo e das flores ao fundo, como na pintura A condessa Adèle de Toulouse-Lautrec (1880-82), ambientada durante o dia e de acordo com o que se esperava de uma mulher no século 19. Em outras palavras, nessa época em que Paris via surgir novos espaços de sociabilidade, como teatros, café-concertos, restaurantes e bares, o espaço público, e principalmente o espaço noturno, ainda era reservado apenas a homens. Mulheres presentes nesses lugares, aos olhares burgueses, eram vistas como pouco respeitáveis.
Nascido em uma família da nobreza decadente, Toulouse-Lautrec transita entre os universos burguês e proletário com desenvoltura. Devido à uma doença congênita nos ossos, provavelmente consequência do casamento entre seus pais que eram primos, teve suas pernas afetadas em dois acidentes, fazendo com que não se desenvolvessem e mantivessem o tamanho das de um menino. No entanto, sua dificuldade de locomoção não o impediu de estudar pintura e frequentar ativamente a vida noturna parisiense, tema da última sessão, ao fundo da exposição.
Algumas das obras mais conhecidas de Toulouse-Lautrec foram reunidai: Moulin de la Galette (1889), bar e salão de dança da classe trabalhadora, localizado em um antigo moinho; além de vários cartazes que o artista criava sob encomenda para divulgar os espetáculos de dança e eventos dos cabarés ou ainda gravuras para peças de teatro e retratos de atores e atrizes. Jane Avril no Jardin de Paris (1893), Divan Japonais (1892) e Troupe da Mlle Églantine (1896) retratam sua amiga Jane Avril (1868-1943), célebre dançarina do recém-inaugurado Moulin Rouge. O cabaré também foi tema de um de seus cartazes mais populares, Moulin Rouge (La Goulue) (circa 1891).
Além de pinturas e gravuras, Toulouse-Lautrec em vermelho apresenta cerca de 50 documentos da época, entre cartas, bilhetes, telegramas e fotografias do artista e seu círculo de amigos. A coleção, reunida pelo editor Pedro Corrêa do Lago ao longo de mais de 20 anos, cobre todo o arco temporal da vida de Toulouse-Lautrec: desde sua primeira carta, aos 7 anos, onde apenas assina seu nome; à última que escreveu, no verso de uma mensagem de seu amigo Paul Viaud à sua mãe, alguns meses antes de sua morte, em 1901. Algumas correspondências e fotografias são inéditas, nunca tendo sido publicadas ou exibidas. Essa é a primeira vez que a coleção é exposta integralmente.
Toulouse-Lautrec em vermelho dialoga de maneira próxima com outras duas exposições que também abrem no mesmo dia, em um eixo pautado por representações da prostituição. Uma delas reúne fotografias de Miguel Rio Branco, feitas em torno da prostituição no bairro do Pelourinho, em Salvador, em 1979; a outra exibe vídeos de Tracey Moffatt, feitos a partir de colagens de cenas de vídeo do cinema de Hollywood do século 20. Essas três mostras, por sua vez, estão em diálogo com outras monográficas: de Teresinha Soares e Wanda Pimentel, atualmente em exibição no 2º subsolo e mezanino do 1º subsolo, respectivamente; e, no segundo semestre, de Guerrilla Girls, Pedro Correia de Araújo (1874-1955) e de Tunga (1952-2016). Todas essas exposições voltam-se para a mostra coletiva Histórias da sexualidade, que trata dos temas ligados à sexualidade e ao corpo, em uma abordagem transversal, articulando vários acervos e artistas de diferentes gerações e territórios, com núcleos dedicados à prostituição, ao nu, ao homoerotismo, aos jogos sexuais, ao ativismo feminista e queer, entre outros.
Serviço:
Toulouse-Lautrec em vermelho
Local: Masp
Endereço: Avenida Paulista, 1578, São Paulo, SP
Data: 30 de junho a 1 de outubro de 2017
Local: 1º andar
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terça a domingo: das 10h às 18h (bilheteria aberta até as 17h30); quinta-feira: das 10h às 20h (bilheteria até 19h30)
Ingressos: R$30,00 (entrada); R$15,00 (meia-entrada)
O MASP tem entrada gratuita às terças-feiras, durante o dia todo.
Estudantes, professores e maiores de 60 anos pagam R$15,00 (meia-entrada).
Menores de 10 anos de idade não pagam ingresso.
O MASP aceita todos os cartões de crédito.
Acessível a deficientes físicos, ar condicionado, classificação livre.
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