A obesidade na gravidez representa um desafio crescente para a saúde pública e traz implicações específicas para gestantes e bebês. Segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), 20,7% das mulheres brasileiras acima dos 20 anos estão obesas, e mais de 53% apresentam excesso de peso. Esses números refletem a realidade de muitas mulheres em idade fértil e indicam a necessidade de cuidados obstétricos específicos.
A dra. Claudia Cristina Goulart Ribeiro, coordenadora de obstetrícia no Hospital Paulino Werneck, gerido pelo Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” (CEJAM), ressalta que a obesidade está associada a uma série de riscos para a saúde materna e fetal. Mulheres grávidas com obesidade têm maior propensão a desenvolver complicações como diabetes gestacional, hipertensão e problemas de desenvolvimento fetal.
Complicações Associadas à Obesidade na Gravidez
A obesidade durante a gestação pode causar diversas complicações. Entre elas, a diabetes gestacional é uma das mais comuns, elevando os níveis de glicose no sangue da mãe e potencialmente resultando em bebês com peso elevado ao nascer. Outro risco é o desenvolvimento de hipertensão e pré-eclâmpsia, que podem comprometer a saúde de mãe e filho.
O excesso de peso também aumenta a probabilidade de cesarianas, dificultando o parto normal e ampliando o risco de infecções e complicações na recuperação. Outras condições frequentes incluem anemia, que compromete a oxigenação dos tecidos, e problemas de desenvolvimento fetal, como malformações e partos prematuros. Além disso, bebês de mães obesas apresentam maior risco de obesidade infantil, perpetuando o ciclo de excesso de peso.
Aumento de Gestantes Obesas no Brasil
A obesidade em gestantes preocupa profissionais de saúde e maternidades em todo o Brasil. Segundo a dra. Claudia, muitos hospitais de referência já oferecem ambulatórios específicos para gestantes com obesidade mórbida, com IMC acima de 40. Ela destaca que, nesses casos, o número de cesarianas tende a ser maior devido às complicações associadas à obesidade, como diabetes e hipertensão.
Obesidade e Fertilidade
A obesidade pode dificultar a concepção, afetando o ciclo menstrual e a ovulação. A síndrome dos ovários policísticos (SOP), comum em mulheres obesas, contribui para distúrbios ovulatórios e irregularidades menstruais. Alterações hormonais também interferem na produção de hormônios essenciais ao ciclo ovulatório, elevando o risco de abortos espontâneos.
Abordagem Multidisciplinar no Pré-natal
Dada a complexidade dos riscos, o acompanhamento de gestantes obesas envolve uma abordagem multidisciplinar. Inicialmente, é realizada uma avaliação de saúde e controle do IMC. Um nutricionista orienta a alimentação adequada e o controle de peso, enquanto atividades físicas supervisionadas ajudam a melhorar a saúde cardiovascular.
Para gestantes com condições como diabetes e hipertensão, o monitoramento contínuo é fundamental. O suporte psicológico também é recomendado para enfrentar desafios emocionais relacionados à obesidade durante a gestação.
Importância da Prevenção e Acompanhamento
A dra. Claudia reforça a relevância de programas de prevenção para gestantes obesas, a fim de reduzir os riscos associados e promover gestações mais seguras. O cuidado preventivo e a conscientização sobre os impactos da obesidade na gravidez são essenciais para melhorar os resultados para mãe e bebê.
A abordagem multidisciplinar: cuidando da saúde da mãe e do bebê
Diante de todos esses riscos, o acompanhamento pré-natal de uma mulher obesa deve ser cuidadosamente planejado e envolvido em uma abordagem multidisciplinar. Isso inclui:
Avaliação inicial e contínua: no início do pré-natal, a gestante passará por uma avaliação abrangente de saúde, incluindo o cálculo do IMC, histórico médico e presença de comorbidades. Consultas frequentes são essenciais para monitorar a evolução da gestação.
Plano alimentar e nutricional: o nutricionista desempenha um papel fundamental no controle de peso da gestante, oferecendo orientações alimentares que garantam uma nutrição adequada, sem ganho excessivo de peso.
Exercícios físicos adequados: sob a supervisão médica, a prática de atividades físicas leves e seguras pode ajudar a controlar o peso e melhorar a saúde cardiovascular da gestante.
Controle de doenças associadas: para gestantes com diabetes ou hipertensão, o controle rigoroso dessas condições será uma prioridade ao longo de toda a gestação.
Suporte psicológico: a obesidade pode trazer desafios emocionais, como baixa autoestima e estresse. O suporte psicológico é essencial para ajudar a gestante a lidar com essas questões e enfrentar a gravidez de forma saudável.
Preparação para o parto e pós-parto: é importante que a gestante esteja ciente das opções de parto e das intervenções que podem ser necessárias. O acompanhamento também se estende ao pós-parto, onde o foco é prevenir complicações como infecções e problemas de cicatrização.
Prevenção e cuidado são essenciais
Dra. Claudia enfatiza a importância de programas de prevenção e suporte para gestantes obesas. “Ao garantir que as mulheres recebam acompanhamento médico adequado desde o planejamento da gravidez, podemos reduzir os riscos e promover gestações mais saudáveis”, conclui.
O cuidado personalizado e a conscientização sobre os riscos são passos fundamentais para melhorar os desfechos maternos e infantis em um cenário de aumento da obesidade no Brasil.
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