A jornalista bielorrussa Svetlana Aleksiévich estará na festa literária 2016, que acontece de 29 de junho a 3 de julho. Autora de uma “obra polifônica, um monumento do sofrimento e da coragem em nosso tempo” – como definiu a Academia Sueca –, seus livros são extensas reportagens, que basicamente transcrevem longos depoimentos em primeira pessoa. Seus vastos recursos literários, que pela primeira vez garantiram o Nobel de Literatura a uma obra jornalística, dão acesso a um universo distante e fechado, que só conhecíamos de maneira mais fria, pelos livros de história: a vida das pessoas comuns na União Soviética, as conversas sobre política nas cozinhas de Moscou, as consequências de uma catástrofe ambiental, o destino trágico de um povo que perdeu o país em que nasceu.
Em entrevista, afirmou que busca um método literário que a aproxime o máximo da vida real. “A realidade sempre me atraiu como um ímã, me torturava e hipnotizava, e eu queria botar isso no papel”, comenta a escritora, que começou a trabalhar em um jornal local de Narovl, na atual Belarus, depois de terminar a escola.
Filha de pai bielorrusso e mãe ucraniana, Svetlana nasceu em 1948, na cidade soviética de Stanislav, atual Ivano-Frankivsk, no oeste da Ucrânia. Com a desmobilização do Exército Vermelho, que havia enfrentado as tropas alemãs na região, seu pai conseguiu dispensa do serviço militar e então a família mudou-se para um vilarejo ucraniano onde os pais da autora voltaram a dar aulas. A família passava por grandes dificuldades materiais e havia perdido diversos de seus integrantes no front.
Seus livros lembram muito a leitura de Tolstói: são os mesmos tipos populares, os mesmos mujiques e as mesmas mulheres fortes, mas convertidos em operários, soldados, prisioneiros e burocratas, que dão seus testemunhos pessoais sobre episódios marcantes da história. É o caso de Vozes de Tchernóbil , emocionante relato sobre o acidente nuclear ocorrido em 1986, cujo lançamento a editora Companhia das Letras prepara para o mês de abril.
Para Paulo Werneck, curador da Flip, “é um enorme orgulho receber Svetlana Aleksiévich no ano seguinte à sua premiação com o Nobel” – trata-se da primeira vez que a Flip confirma a presença de um autor recém-premiado com a mais importante distinção literária mundial. Durante a festa, a autora lançará ainda A guerra não tem rosto de mulher , sobre a participação de mais de 500 mil soviéticas na Segunda Guerra Mundial (1939-45). A pesquisa para o livro levou-a a mais de cem cidades e vilarejos.
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